domingo, 19 de maio de 2013

Contos de Terror

Muito Fraco:

As flores da morte



Conta-se que uma moça estava muito doente e teve que ser internada em um hospital. Desenganada pelos médicos, a família não queria que a moça soubesse que iria morrer. Todos seus amigos já sabiam. Menos ela. E para todo mundo que ela perguntava se ia morrer, a afirmação era negada.
Depois de muito receber visitas, ela pediu durante uma oração que lhe enviassem flores. Queria rosas brancas se fosse voltar para casa, rosas amarelas se fosse ficar mais um tempo no hospital e estivesse em estado grave, e rosas vermelhas se estivesse próxima sua morte.
Certa hora, bate a porta de seu quarto uma mulher e entrega a mãe da moça um maço de rosas vermelhas murchas e sem vida. A mulher se identifica como "mãe da Berenice". Nesse meio de tempo, a moça que estava dormindo acordou, e a mãe avisou pra ela que a mulher havia deixado o buquê de rosas, sem saber do pedido da filha feito em oração.
Ela ficou com uma cara de espanto quando foi informada pela mãe que quem havia trazido as rosas era a mãe da Berenice. A única coisa que a moça conseguiu responder era que a mãe da Berenice estava morta há 10 anos.
A moça morreu naquela mesma noite. No hospital ninguém viu a tal mulher entrando ou saindo.
Fraco:
A Tenebrosa Noite de Tempestade
Contos de Terror
Era uma noite chuvosa quando um pai e sua filha voltavam do hospital onde ficaram o dia inteira na espera que a esposa e mãe estava internada. Uma grave doença desconhecida consumia sua vida e os médicos não sabiam o que fazer.

Como o hospital era longe, eles tinham que cruzar uma longa estrada escura que cortava um grande bosque. O som da chuva batendo no teto do carro , fazia um barulho relaxante e a garota começou a cochilar.

Repentinamente um grande estrondo fez-se ouvir. O trovão veio forte e um relâmpago iluminou a noite. O pai segurou firme o volante e o carro derrapou na estrada molhando até bater em um barranco.

Após verificar se sua filha não estava machucada o homem decidiu  sair do carro para ver os estragos que o veículo havia sofrido. Os dois pneus dianteiros estavam furados e uma das rodas amassada.

- Parece que passamos por cima de algo grande na estada. – disse o homem.

A filha, debruçada na janela, perguntou receosa:
- Mas você pode consertar pai?

- Não – disse o homem balançando a cabeça. – Eu só tenho um estepe e vou ter que voltar a pé até a cidade para encontrar alguém que possa nos rebocar, não é longe daqui. Você pode esperar no carro até eu voltar.

- Tudo bem. – disse ela . – Mas não demore muito tempo.


O pai percebeu o medo nos olhos de sua filha e afirmou que iria o mais rápido possível.

A filha olhou pelo vidro de trás até ver o pai desaparecer , andando pela estrada no meio da noite.

Havia passado mais de uma hora e o homem ainda não tinha retornado. A garota começou a ficar preocupada, qual seria o motivo de tanta demora? Será que seu pai não havia encontrando nenhum reboque? O medo de ficar naquela estrada escura aumentava cada vez mais até que ela viu um vulto ao longe, vindo pela estrada.

Inicialmente ela ficou alegre, pois pensou que fosse seu pai, porém a alegria inicial foi virando medo quando ela pode perceber que era um homem estranho que vinha andando pela estrada. Agora, mais perto e iluminado pelos eventuais relâmpagos podia ver que se tratava de um homem alto, vestindo macacão e com uma barba em torno do rosto. Notou que algo grande estava sendo carregado em sua mão esquerda.A garota começou a ficar nervosa e rapidamente trancou todas as portas do carro, após fazer isto e se sentir mais segura olhou para fora: o homem havia parado e olhava fixamente para ela a uma distância alguns metros.

De repente ele levantou o braço e a menina soltou um grito horripilante. Seu corpo todo tremia, as lágrimas invadiram seus olhos e apavorada viu que na mão esquerda o homem segurava a cabeça decepada de seu pai.

Seu coração batia aceleradamente e ela gritava sem parar. A expressão grotesca deu seu pai era horrível. A boca estava entreaberta com a língua de fora e os olhos estavam todos brancos.

Do lado de fora, colado em sua janela o homem olhava com raiva para ela. Seus olhos estavam injetados de sangue e seu rosto era coberto de cicatrizes. . Por um breve momento ele ficou sorrindo para ela como se fosse um louco, então lentamente ele colocou a mão no bolso e tirou algo e agitou para que ela visse.

Na sua mão estava as chaves do carro do seu pai...

Médio: 

 A Primeira Vez

 O que ela mais queria: perder sua virgindade. Esta era a sua vontade, mas... Com quem? Ela era solteira, tímida, recatada. Nunca fazia nada de emocionante. Não bebia, não fumava, não saía nas sextas-feiras. Morava sozinha, num apartamento pequeno e aconchegante, num lugar pouco movimentado. Ela sempre sonhava com o dia em que perderia sua pureza, estava sempre imaginando como seria; se seria igual a um filme de amor ou um filme adulto. Ela não era do tipo de mulher que se tocava, não. Ela queria que alguém fizesse isso por ela, que alguém a tocasse e desejasse; alguém que a fizesse desabrochar para o prazer. Uma mulher romântica era o que ela era. Ela só tinha um medo. O medo de se arrepender, ou pior, o medo de alguém descobrir o que ela fez. Alguém próximo, isso mancharia sua imagem pura perante todos os conhecidos que soubessem. Ela também já pensou na possibilidade de pagar um garoto de programa, mas desistia logo pelo fato de ser um desconhecido.
   Mas a sua vontade estava gritando forte ultimamente. Como ocorreria? Cléo não tinha namorado. Não que ela fosse feia, longe disso! Pelo fato de ela ser retraída e recatada, os homens não a desejavam, por incrível que pareça eles a olhavam com respeito. Achavam que ela fosse uma cristã devota, mas Cléo não era. Ela apenas fora criada de um jeito conservador.

   Cléo se deitou no seu sofá e ligou a televisão. As luzes estavam apagadas, a janela estava aberta, deixando entrar uma brisa fria. Sua sala era pequena e bem decorada, tudo era bem organizado, o que passava a impressão de ser um pouco maior. Ela ficou ali, deitada e trocando os canais, viajando no seu romantismo adolescente.
   — Ai, parece ridículo... Mas eu preciso de um companheiro! – dizendo isso ela sorriu. Cléo tinha o costume de conversar sozinha, às vezes de frente ao espelho, como se interpretasse um outro eu dela.
   Perto da meia noite, já cochilando ela despertou assustada. Olhou a hora e decidiu verificar seus e-mails. Pegou seu notebook que estava na mesinha de centro, ligou-o, checou o wi-fi e se conectou. Passeando com os olhos na caixa de entrada ela se surpreendeu com um determinado e-mail.
   — O que o senhor Berilo quer comigo?
   Berilo era o chefe do seu departamento de telemarketing. Um homem louro de boa aparência e com boa reputação. Ele era noivo e se casaria em breve. Todos no setor desconfiavam de sua atração por Cléo, mas ela jamais havia desconfiado de nada. Cléo também era avoada.
   "Quando ler este e-mail, por favor, responda rápido. Gostaria de conversar com você, Cléo. Estarei esperando."
   O coração dela ficou apertado e lhe faltou fôlego. Cléo tinha uma paixão platônica por seu chefe. Porém avoada, nunca tinha percebido segundas intenções da parte dele. Será que...?
   — Ai, meu Deus! Não pode ser verdade...   — Nunca quis tanto algo como agora...

   Ela respondeu o e-mail escrevendo "Estou aqui". Um minuto depois seu celular começou a tocar. Atendendo-o e receosa disse:
   — O-oi...?
   — Boa noite, Cléo. Desculpe pela hora.
   — Tudo bem... O que o senhor quer?
   — Não me chame de senhor, sim? Devo ser apenas uns cinco anos mais velho que você.
   — Ok, perdão.
   — Não se desculpe.

   — Então Berilo... O que quer? –Cléo estava nervosa, com borboletas no estômago.
   — Eu quero você.
   O tempo parou. Ela perdeu o chão e ficou sem ação. Gaguejando ela perguntou:
   — Co-co-como assim?
   — Você me conquistou Cléo! Desculpe-me por estar dizendo isso por telefone, mas eu não poderia mais esperar. O seu jeito meigo, sua forma de se expressar, até como você se veste. Você tem aquele mistério que eu procuro em toda mulher!
   — Mistério você diz... Continue. –ela deu um meio sorriso malicioso e em seguida mordeu os lábios.
   — Mas não posso ter um relacionamento sério com você. Você sabe que eu...
   — Que você é noivo! Sim, eu sei.
   — Aí eu queria...
 — Aí você queria fazer sexo sem compromisso algum e que isso ficasse somente entre nós e as paredes? – Cléo disse isso rapidamente sem demonstrar sentimento algum.
   — Bem... É-é isso... –Berilo se desconcertou – Me desculpe. Não posso ter nada, além disso, com vo...
   — Eu topo!
   Berilo se espantou com aquela resposta. Cléo já estava desesperada, e não se importava em ser um mero objeto dali por diante. Ela queria e ela teria.
   — Amanhã é sábado. Portanto não trabalhamos. Venha ao meu apê à tarde, pode ser? –perguntou Cléo, com certeza e prontidão.
   — Tudo bem, então... – Berilo não conseguia desligar o telefone.
   — Até amanhã, senhor Berilo... O que foi? Quer flertar por telefone, agora? – perguntou Cléo, já segura de si, parecia que ela estava no comando.
   — Não, não... Até amanhã.
   Cléo desligou o celular e olhou fixamente para tela do mesmo. Ela sorriu com satisfação. Parecia que seu sábado seria mágico... Ou seria trágico.
   Caminhando para o seu quarto lembrou-se de uma coisa. Algo que ela também queria experimentar. Ela sentou na sua cama Box de casal e olhou para um livro que estava jogado na cômoda ao lado da cama. Sim, ela tentaria unir essa experiência com a outra. Pensar no momento com o seu chefe a fazia gargalhar.
   Manhã de sábado.
   Amanheceu chovendo muito. Cléo havia saído para comprar coisas básicas para aquela tarde. Vinho (a única bebida alcoólica que ela conseguia tomar sem vomitar), salgadinhos, camisinhas... Depois de um belo banho quente, Cléo decidiu se produzir, vestir algo que ela nunca vestiria para sair na rua, algo provocante. Após secar seus longos cabelos castanhos cacheados e de se maquiar como uma perua, Cléo colocou um vestido muito justo, tomara que caia, acima do joelho e vermelho-cereja. De frente para o espelho ela se analisou.
   — Está muito linda, Cléo! Vai sair hoje?
   — Não, não irei sair. Terei um encontro especial aqui em casa mesmo.
   — Encontro especial? Sei bem como vai ser esse encontro... Como você se sente neste papel de vadia?
   — Muito bem se quer saber. Já estava na hora de tirar meu selo não acha?
   — Quem te viu quem te vê, queridinha... Vinte e cinco anos de gostosura.
   — Deseje-me sorte, eu!
   — Vai com tudo, eu!
   Ela falava sozinha. Lembra-se? Mandou um beijinho pro espelho e se perfumou.
   — Hoje tem.
   Tarde. Berilo surgiu no corredor do prédio com um buquê de rosas vermelhas nas mãos. Ele tocou a campainha e aguardou. Cléo abriu a porta devagar. Ela estava a luxúria em pessoa. Sua cintura fina e quadris largos era motivo de inveja para outras mulheres. Seus lábios carnudos e olhos ferinos enfeitiçavam Berilo. Ele nunca a tinha visto daquele jeito, provocante. Estupefato com aquela visão, ele teve dificuldades em dizer um simples...
   — Boa tar-tarde, Cléo. Como vai?
   — Muito bem, obrigada. Entre! –Berilo entrou e entregou as rosas para ela. Ele se sentou no sofá enquanto ela colocava as flores num vaso.
   — Você sabia que as rosas vermelhas simbolizam o amor e a paixão entre os casais? É sempre um grande presente, dado principalmente em datas especiais, como aniversários de namoro, de casamento, dia dos namorados, dia de sexo...
   — Olha Cléo... Se você estiver se sentindo mal por isso, eu...
   — Não seja bobo! – Ela pegou duas taças já cheias de vinho e se sentou ao lado de Berilo – Você sabia que eu sempre tive uma quedinha por você, chefe!?
   — Não sabia...
   Ela entregou a taça para ele, que por sua vez esvaziou-a com uma só virada.
   — Sou virgem, Berilo. – disse isso com um ar dócil, o encarando como um bicho.
   — Sério!? Puxa... Quer dizer que... Eu serei o primeiro...!? Não... Desculpe-me... Eu sei que a virgindade para as mulheres é mais importante do que para os homens... Que elas... Vocês! Querem sempre perder com alguém especial e...
   — Mas você é especial. E pare de se desculpar, você é um adulto. Fica ridículo.
   Berilo estava conhecendo um lado de Cléo que ele nem desconfiava que existisse. O lado da mulher segura, da mulher de opinião. Um momento de silêncio reinou naquele lugar. Cléo estava preocupada apenas com uma coisa, ela não queria que aquele ato se espalhasse. Ninguém poderia saber.
   — Jura que ninguém ficará sabendo?
   — Juro por minha vida.
   Ela não confiava o suficiente em Berilo. Ele tinha uma boa reputação, dentro da empresa. Mas ele era um mulherengo fora dela. Cléo seria a primeira funcionária com que ele teria tal relação. Ele poderia contar o feito para seus amigos, e estes amigos poderiam espalhar por aí, e daí tudo poderia virar uma confusão na vida sem graça e sem emoção de Cléo. Ela não queria isso.
   — Vai ficar me encarando para sempre? –perguntou Cléo, abrindo levemente suas pernas.
   Berilo acariciou seu rosto e a envolveu em seus braços musculosos. Os dois então começaram a se beijar. Começou como um casal de namorados, e foi se desenvolvendo e se tornando algo intenso e quente. Com uma das mãos Cléo foi desabotoando a camisa de seu chefe, Berilo foi alisando as coxas da funcionária e subindo até sua virilha. Aquilo foi ficando mais forte, mais vivo e mais selvagem. Os dois já eram um só; entrelaçados por aquela energia sexual. Berilo se despiu ali mesmo, no sofá. Cléo alisava seu peitoral, seu abdômen, e foi beijando até em baixo... Enfim. Ele arrancou o seu vestido com selvageria. A animalidade estava em seus olhos cor de esmeralda, que em meio a estalos de língua de beijos se encontravam com os olhos cor de avelã de Cléo.
   Já no quarto, o ato estava se concretizando. Depois de muitos gemidos de dor e prazer, de muito suor, tudo acabara. Berilo estava assustado deitado na cama, já Cléo estava tranquila, ela havia se levantado e ido até a cozinha.
   — Foi melhor do que eu pensava! Nem parecia que você era virgem! – disse Berilo em alta voz do quarto – Mas preciso ir, agora. Tenho alguns detalhes pra acertar ainda hoje sobre minha festa de noivado. É amanhã, sabia?
   — Não se fala outra coisa no departamento de telemarketing, querido.
   Berilo se levantou e vestiu sua cueca. Ele estava meio zonzo e sonolento. "Puxa! Foi tão bom que agora fiquei sem forças" pensou ele. Ele pegou suas roupas e iria se vestir na sala, mas quando saiu do quarto e entrou no estreito corredor começou a tropeçar em seus próprios pés. Ele foi perdendo o equilíbrio e se encostou à parede. Foi caindo lentamente até encontrar o chão. Quando percebeu, estava em cima de um grande plástico, transparente e espesso, colocado ali como um tapete.
   — Será que eu bebi demais, meu bem? –perguntou ele a Cléo.
   — Longe disso, você tomou apenas uma taça, lembra-se?
    — O que está...?
   — Só foi um Diazepam meu bem. Coloquei uma quantia considerável na sua taça. Em grandes doses ele causa sonolência, tontura, perda de equilíbrio. Vejamos... – ela olhou para o relógio de parede da cozinha – Se passaram meia hora desde que você tomou! Agora já está em todo o seu organismo!
   — Você me envenenou!
   — Diazepam não é veneno, seu tolinho! É remédio! Um tranqüilizante melhor dizendo.
   — Sua, sua desgraçada...
   — Há alguns minutos atrás eu era a gostosa e tesuda! Como as coisas mudam rápido!
   — Eu te fiz se sentir mulher!! – Berilo soltou essa frase num tom de comandante, como se Cléo fosse algo para ser domado, para ser ensinado. Ela riu.
   — Não me fez querido. Não preciso de homem nenhum para mostrar o que sou! Agradeço por seu empenho e sua virilidade. Foi muito prazeroso, se quer saber.
   Cléo estava com uma faca na mão e usava luvas. Ela a segurava com sua mão direita enquanto passava seus dedos da mão esquerda no fio da mesma.
   — Sempre quis saber como é, sabe?
   Berilo já estava imóvel, tonto, tentando se levantar sem sucesso.
   — A sensação de matar uma pessoa. De ver a vida se esvair de seus olhos...
   Cléo era fascinada por assassinos em série. Ela adorava tudo sobre psicopatas e chacinas famosas. Ela carregava essa ideia de matar já há algum tempo. Nada a faria voltar atrás.
   — O que aconteceu aqui, permanecerá aqui.
   Berilo já estava deitado de costas no chão, estirado e quase imóvel. Cléo se colocou em cima dele, apenas de calcinha e sutiã e o fitou. Segurou a faca com ambas as mãos e as levantou acima da cabeça. Berilo arregalou os olhos, uma lágrima desceu, a arma cortou o ar e se cravou no peito dele. Cortando pele, atravessando ossos, perfurando o coração.
   Um gemido de angústia e dor.
   Um sorriso de prazer e realização.
   O sangue espirrou. Voou no rosto de Cléo, sujou suas luvas. Ela forçou a faca mais para dentro até Berilo parar de se debater. O plástico se inundou de vermelho. Não havia mais suspiros.
   Após o feito, Cléo descravou a arma do peito de sua vítima. Mais sangue escorreu. Ela deixou a faca de lado, se debruçou e olhou fixamente o rosto de seu antigo chefe. Deitou em cima do corpo falecido. Alisou os cabelos louros de Berilo e beijou sua boca.
   — Matar é excitante.
   E cantarolando em cima do cadáver, ficou ali.
   — Obrigada pelas minhas primeiras vezes, senhor Berilo. Primeira transa e... Primeira vítima.
   Um sorriso baixinho ecoou por aquele apartamento.
   Aquele livro que estava jogado em sua cômoda agora estava aberto. Aberto num capítulo chamado: "A primeira vez" Contos de um assassino.
Forte:

Meu Querido Papai

 Três longos meses, eternos para Clara. Perder o pai não é algo fácil para ninguém, ainda mais quando uma desgraça dessa acontece durante a adolescência, fase de transformações na vida de qualquer pessoa., um periódo em que um caráter pode ser moldado definitivamente. Uma depressão aguda com apenas dezesseis anos, é quase que insuportável. Uma tristeza profunda, que tomava conta de todos os familiares ligados ao falecido, um homem muito querido e admirado.
 Clara não queria mais nada na vida. Seu quarto havia se tornado seu lar, um reino particular, proibido para o resto do mundo. Um lugar onde podia chorar a vontade, distante de olhares curiosos, de consolos que de nada serviam, a não ser para deixar seu coração ainda mais pesado, sufocado pela dor. Suas únicas companheiras eram as recordações tenras de seu pai, que surgiam em sua mente como retratos envelhecidos, daqueles que deixamos jogados em um canto do quarto, completamente esquecidos.
 Ficou presa dentro de casa durante os três meses que se seguiram após a morte do pai. Se excluiu da sociedade, de sua rotina de antigamente, apesar dos protestos da mãe, que dizia para superar seu interminável sofrimento e voltar a ser a garota alegre de antes, capaz de abrir um sorriso nos lábios por qualquer motivo, mesmo os mais simples e banais. Não conseguia. Era como se sua alma houvesse sido levada junto de seu pai, para todo o sempre. Nunca mais seria a mesma, tinha a mais plena certeza disso.
 Sentia saudades de ouvir o barulho da chave indo de encontro a fechadura, seguido de um clique da destranca, que anunciava a chegada de seu amado pai, que vinha carregando em uma das mãos um presente, um doce de padaria, dos preferidos de Clara. Lembrava-se de descer as escadas ansiosa pelo reencontro, atirando-se nos braços do pai, fortes e firmes, sentir sua loção para barba, apreciar seus olhos negros como carvão. Momentos de intensa alegria, que como bem sabia, nunca mais voltariam a acontecer. Tinham ficado em um passado distante, que continuava a existir em seu inconsciente mais profundo e desesperado.
 E assim os dias passavam, imersos em lembranças. Em falsas esperanças também. Clara sonhava todas as noites com seu pai, e nessas abstratas oportunidades de vê-lo, conversava. Falava sobre como estava sendo duro aguentar a cruel realidade que era obrigada a defrontar, em como sentia saudades. No entanto, não era correspondida nessas experiências noturnas. A representação de seu pai apenas lhe encarava, sem nada dizer, como um mero boneco. Não havia sequer um afago carinhoso, um beijo na testa, como costumava fazer antes de colocá-la na cama para dormir. Apenas uma imagem em um sonho, incapaz de reproduzir sentimentos.
 No entanto, em um desses sonhos, as coisas começaram a mudar. Normalmente, Clara se via em seu quarto nesses encontros com o pai. Dessa vez, sua mente construiu um novo palco, um lugar desconhecido, aparentemente no meio do nada. Um campo enorme coberto por grama e algumas runas de pedra, irreconhecíveis em meio a escuridão. Bem no meio da paisagem, estava seu pai, um moreno alto, forte, vestido em seu uniforme de trabalho, um macacão azul de encanador. Exibia uma expressão desesperada, que bradava por si só uma ajuda. Clara aproximou-se de seu pai, e perguntou, um tanto receosa:
- Do que você precisa?
 Seu pai nada disse. Limitou-se apenas a apontar para uma toalha vermelha que estava ao seu lado. Um arranjo feito para alguma espécie de ritual profano. Além da toalha, haviam algumas velas roxas, além do desenho de uma estrela de cinco pontas. Um cachorro estripado completava a cena, que parecia ter sido roubada de um filme de horror. Clara gritou diante de algo tão nefasto, despertando em sua cama, com os olhos arregalados e o corpo coberto de suor.
 A imagem desse pesadelo permaneceu em sua mente durante semanas, lhe intrigando profundamente. O que permanecia vivo em sua cabeça era o ritual, o arranjo diábolico, para o qual seu pai apontava suplicantemente. Aquilo lhe deixou imensamente confusa. Incapaz de controlar sua curiosidade, iniciou buscas pela internet relacionada ao assunto. Encontrou um endereço conhecido por abrigar tais seitas. Resolveu visitá-lo, saindo de casa pela primeira vez em três meses. Disse para a mãe que visitaria algumas amigas. Mentira. Tinha se afastado de suas amizades. Na verdade, tinha fugido do mundo, de toda a realidade que antes entendia como vida.
 Foi até o endereço. Era um lugar nem um pouco agradável. Ficava em um beco fedorento da cidade, oculto de todos, como que para menter em sigilo os segredos proibidos que pudesse ter. Adentrou no local, que apresentava-se demasiadamente apertado, repleto de artefatos sinistros, como crânios humanos e medalhões com símbolos considerados satânicos. Clara desejava estar longe dali, mas a vontade de compreender o sentido de seu pesadelo lhe incentivou a ficar. Além disso, queria poder atender ao pedido de seu pai, mesmo que fose apenas algo criado por sua mente desesperada, ferida pelo sofrimento da perda de alguém que tanto amava.
 Um homem de barba longa e vestes negras lhe atendeu. Não era nem um pouco agradável. Fedia como merda. Clara ignorou o odor desagradável e tratou de questioná-lo. Tinha de saciar sua curiosidade, que lhe atiçava como um inseto incômodo, picando partes do corpo impossíveis de se coçar. Podia simplesmente ter ido embora, mas não o fez. Certas coisas devem ficar em segredo. Certas respostas não devem ser procuradas. Clara não sabia disso, e mesmo que soubesse, teria ignorado. Seu pai lhe induzia a continuar. Virando-se para o estranho homem, disse:
- Tenho algumas dúvidas em relação a um ritual, e creio que esse seja o lugar certo para buscar respostas.
- De que tipo de ritual estamos falando especificamente? - Perguntou o homem, que parecia não escovar os dentes há décadas, tamanha a podridão exalada por sua boca.
- O que exige o sacríficio de um animais. - Disse Clara, sentindo-se nervosa por estar debatendo um assunto tão macabro.
- Existem vários desse tipo. Geralmente são feitos para estabelecer um comunicação com entidades superiores. Para satisfazer desejos impossíveis, digamos. - Disse o homem, coçando sua barba longa e suja. Clara avistou com repulsa um grão de arroz em meio a toda aquela pelugem.
- Qualquer tipo de desejo? - Perguntou Clara, deslumbarada pela possibilidade.
- Qualquer um. - Disse o homem, com uma expressão endiabrada no rosto, que faria qualquer um ter certeza de que estava possuído por algum ser maligno. - Exigem um custo alto, irrisório talvez, para quem quer algo que nunca poderia ter de maneiras normais.
- Só preciso de um sacríficio animal para esse ritual? - Perguntou Clara, pensando em seu pai. Já não havia mais volta. Suas ações no entanto, seriam desastrosas.
- De um sacrifício e de uma boa quantidade de seu sangue. Um copo e meio deve bastar. - Disse o homem, parecendo cada vez mais enlouquecido.
- Certo.- Disse Clara, deixando o local em seguida, sem mais nada dizer.
 Foi durante a madrugada. Clara levantou-se silenciosamente de sua cama, disposta a colocar o seu plano em ação. Apanhou um pano de prato de uma gaveta no ármario da cozinha, e uma faca bem afiada de cima da mesa. Foi até o sofá, onde seu gato dormia tranquilamente, alheio ao perigo que se aproximava. Agarrou o animal pelo pescoço, enfiando a lâmina em seu ventre, fazendo uma quantidade de sangue considerável jorrar no chão. Estendeu o pano de prato encima da poça de sangue, colocando o gato morto por cima de todo o arranjo. Acendeu algumas velas e desenhou uma estrela de cinco pontas um tanto torta. Nunca tinha sido uma boa desenhista. Para sua sorte, ou quem sabe azar, a entidade que tentava invocar não ligava para tais detalhes.
 Proferiu algumas palavras em latim, as quais não compreendia o significado, articulando-as apenas pelo simples fato de que eram necessárias para atrair a entidade capaz de realizar seus desejos mais insanos. Fechou os olhos e abriu um corte profundo em um de seus pulsos, que começou a sangrar descontroladamente. Assim que o líquido vermelho tocou o desenho da estrela de cinco pontas, o ar tornou-se insuportavelmente pesado, como que tomado por algum ser invísivel de presença opressiva. Um cheiro de putrefação se fez sentir, desaparecendo logo em seguida. Clara caiu ao chão inconsciente. Ficou desacordada por horas. Sua mãe lhe encontrou a beira da morte no chão da sala, pálida como cera por conta da quase fatal perda de sangue provocada pela ferida no pulso. Por obra do destino, sobreviveu.
 Passou uma semana no hospital, onde recuperou-se bem do incidente. Era obrigada a passar por sessões cansativas com psicólogos, que questionavam seu interesse por magia negra, ao mesmo tempo em que avaliavam a sua sanidade. Clara respondia aos questionamentos com muita paciência. Já havia assumido o seu momento de loucura, sua fraqueza, que lhe tinha levado a acreditar que teria seu pai de volta. Nada no mundo poderia proporcionar-lhe tal possibilidade. A morte é irreversível. Havia aceitado essa realidade, de uma vez por todas.
 Retornou para casa e decidiu voltar a viver. Resolveu rever seus antigos amigos, matriculou-se novamente na escola, disposta a recuperar o tempo perdido. Guardou o albúm de fotos de seu pai, o mais distante possível de suas mãos. Trataria de esquecê-lo por um tempo, para o seu próprio bem. No entanto, não é assim que a banda toca. Sempre tentamos enterrar o passado, mas ele sempre retorna, de uma maneira ou de outra. Foi assim com Clara. Seu passado bateu em sua porta, literalmente.
 Uma bela tarde de outono. Clara cuidava de terminar os deveres de escola. Estava distraída nessa árdua tarefa, quando ouviu o som da campainha no andar de baixo. Apostava que era uma de suas amigas. Sempre lhe visitavam nas horas mais impróprias. Começou a planejar uma maneira de dispensar quem quer que fosse, quando assustou-se com o berro estridente de sua mãe. Algo estava errado. Seria um ladrão, algum marginal carregado de más intenções? Clara não sabia. Estava amedrontada, mas mesmo assim saiu de seu quarto e desceu as escadas, ignorando o risco que corria.
A vistou sua mãe caída no chão, completamente desacordada. Correu até ela desesperada, parando subitamente com uma expressão de assombro no rosto. Parado na sua frente, estava um moreno alto e forte, vestido de um macacão azul todo manchado de terra. A figura não tinha mais cabelo e um de seus olhos parecia ter sido arrancado de sua órbita, por algum animal esfomeado. Verdade que o homem cheirava como carne podre, sem falar que seu rosto havia desaparecido quase que por inteiro, dando lugar para uma forma disforme, quase irreconhecível. Também não tinha dentes, mas Clara não se importava. Correu ao encontro do cadáver e o abraçou, beijando-o com carinho na face descarnada.
 Encarou o olho restante do pai, que estava dependurado no rosto por um nervo branco, que lembrava uma larva dessas que achamos no meio do lixo. Beijou-o na bochecha, sentindo o gosto de terra fresca adentrar em sua boca. Em seguida disse, com um sorriso luminoso, o qual há muito não se via em suas feições:
- Eu te amo, papai. Estou muito feliz em te ver de novo.
- Eu também. - Disse a coisa, com uma voz sufocada, semelhante a de alguém que grita socorro enquanto se afoga. - Vim para te levar. Você vai morar comigo agora. É um lugar muito agradável. Você vai adorar.
- Não importa para onde vamos. Só quero estar com você. - Disse Clara, segurando a mão da coisa. - Vamos.
- Lá viveremos para todo o sempre. Nunca mais iremos nos separar. - Disse o cadáver, com um sorriso sinistro, meio desajeitado, pois lhe restava apenas metade do lábio.
 Partiram de mãos dadas, para algum lugar qualquer. O fato é que Clara nunca mais foi vista. Desapareceu como fumaça, como se nunca houvesse existido antes. Alguns dizem vê-la perambulando pelas ruas, sozinha, clamando por seu pai. Outros afirmam tê-la visto acompanhada de um cadáver de macacão azul, caminhando sem rumo, como uma alma penada. Lendas urbanas, histórias criadas por mentes imaginativas demais. Não teria a garota enlouquecido e apenas fugido de casa? Não se sabe. Em realidade, ninguém nunca irá descobrir que fim levou Clara. Apenas mais uma pessoa desaparecida e esquecida com a passagem implacável do  tempo.
Muito Forte:
Já era noite quando quatro amigos chegaram a uma cabine nas montanhas geladas de Montana nos Estados Unidos que alugaram para passar o fim de semana. A neve cobria a casa e os pinheiros em volta e o vento gelado cortava seus rostos com força. Eles olharam para o céu e viram a lua cheia de trás de uma camada grossa e vermelha de nevoeiro. Sorriram uns para os outros, a noite estava mais que perfeita para seus planos.

Eles entraram na cabine, olharam todos os cômodos para confirmar que não havia ninguém. Dois deles foram para fora trazer a bagagem e os outros dois ficaram na sala. Eles foram arrastando os moveis formando um círculo. Quando tudo estava limpo, trouxeram a mesa de jantar para o meio.


Nesse momento os dois que foram para fora entraram na sala carregando um corpo de mulher. Ela estava amarrada e amordaçada. A colocaram em cima da mesa e amarraram seus braços. A mulher chorava e se debatia. Não sabia o que iria acontecer e o que aqueles homens queriam com ela. 


Rapidamente eles começaram a espalhar velas pretas, vermelhas e brancas por toda casa. Quando terminaram vieram ao redor da mesa. Um deles colocou uma cruz virada para baixo em seu ventre. Cada um deles tirou um punhal de seus bolsos e fizeram um corte profundo em cada membro da mulher que gritava e se contorcia. O sangue que saia dela era colocado em pequenos vasos de metal. Depois de um tempo eles molharam suas mãos no sangue e esfregaram no rosto deixando a pele vermelha.


Eles deram a mãos formando um circulo em volta da mulher e começaram a repetir as palavras do ritual. Passados alguns minutos a mulher começou a se contorcer mais forte e a gritar com uma voz que não era a sua. Os quatro gritavam o encanto cada vez mais alto até que as velas se apagaram. A cabine ficou completamente escura. Eles se espalharam pela sala tentando acender as velas. Não foi preciso procurar muito porque elas se acenderam por si.


Eles se assustaram ao ver que a mulher não mais estava amarrada na mesa. Ela estava de pé, seus olhos estavam brancos e sua pele pálida como a de um morto. O ritual para invocar o demônio tinha funcionado.


“Vocês chamaram, eu estou aqui. O que querem?” – disse a mulher com uma voz grossa e rouca.


“Queremos te servir, em troca de alguns favores é claro.” – respondeu um deles.


A mulher soltou uma gargalhada que fez as paredes da casa tremer. Os quatro também tremiam de medo e terror e então eles se ajoelharam.


“Idiotas vocês, acham que podem exigir favores meus? Vou levar vocês para falar direto com o diabo.” - disse ela pulando em cima de um deles.


Ela enforcou o primeiro até a morte, os outros três desesperados tentaram fugir, mas não puderam abrir as portas nem janelas, a casa estava lacrada. 


“Agora experimentem um pouco do que vão sofrer no inferno, sua nova casa.”


Dizendo isso ela soltou um grito ensurdecedor, os três que ainda estavam vivos caíram no chão tentando tapar os ouvidos, mas era em vão, pois o grito estava dentro de suas cabeças. A mulher andou em direção a porta, cada passo que dava deixava uma marca de fogo no chão. Ela saiu da casa e fechou a porta, olhou para dentro por uma das janelas e balbuciando algo fez o fogo das velas e de suas pegadas se espalharem.

Ela se afastou da cabine que em minutos estava toda em chamas. Observando os homens dentro batendo no vidro jogando cadeiras tentando quebrar o vidro enquanto seus corpos queimavam pouco a pouco ela se contorcia dando gargalhadas.

Horas depois a polícia e os bombeiros encontraram o corpo da mulher deitada na neve e a casa ainda em chamas. A mulher sobreviveu, mas foi incapaz de dizer como foi parar naquele lugar. Nenhum corpo foi encontrado dentro da casa.

#SrtaSlender, #Momsen

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